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Reflexões e Inspirações 

Travesseiro

  • Foto do escritor: Felipe Manuel
    Felipe Manuel
  • 24 de abr.
  • 2 min de leitura

Não sei dizer exatamente o que comecei a pensar primeiro. Acho que foi o barulho do ventilador girando devagar no teto, tentando vencer um calor que nem parecia real. Ou talvez tenha sido aquele som abafado dos meus próprios pensamentos, como se estivessem falando debaixo d’água. Não sei. Às vezes, tudo parece tão longe. Não só no tempo, mas na sensação. É como se eu lembrasse de uma vida que não vivi. Ou que vivi e depois larguei numa esquina qualquer, pra alguém levar por engano. E eu fico aqui, tentando lembrar onde foi que me perdi… mas já não sei se quero mesmo encontrar. Talvez essa busca constante por respostas seja só uma forma sofisticada de evitar o silêncio. Porque, quando tudo cala, é aí que a mente fala mais alto. E nem sempre gosto do que escuto. Hoje mesmo... olhei pela janela e tive a impressão de que o mundo lá fora seguia normalmente. O céu nublado, algumas folhas se mexendo no ritmo do vento. E mesmo assim, tudo parecia suspenso. Como se o tempo tivesse parado só pra me lembrar de que eu ainda não comecei de novo. Eu ensaio sorrisos como quem testa uma roupa antiga. Visto, olho no espelho, e não me reconheço. Mas saio assim mesmo, porque é o que tem. Não sei mais se é falta ou excesso... talvez as duas coisas juntas, brigando dentro de mim, querendo ocupar o mesmo espaço. Tem dias que eu penso que só estou colecionando cascas. Casca de mim, dos outros, do que sobrou depois que deixaram de tentar entender. É mais fácil, eu sei. Fingir que tá tudo bem. Dizer “foi só uma semana corrida” quando, na verdade, o que correu foi a vontade de ficar. E eu continuo, como se fosse normal. Como se todo mundo vivesse com esse eco por dentro. Como se todo travesseiro não escondesse um pouco do que ninguém vê. A gente vai se acostumando a dormir assim, com o peso invisível que dobra o corpo sem dobrar o lençol. Algumas frases grudam, sabe? Coisas que alguém disse sem pensar, mas que você não consegue mais soltar. Tem uma que ficou — “sorrir sem pensar, errar sem pesar…” — e eu repito isso às vezes, como quem tenta se convencer de que dá pra ser leve num mundo tão denso. Mas a verdade é que, mesmo tentando, tem noites que doem. Sem aviso, sem motivo. Só doem. E eu me pergunto se um dia isso passa. Ou se a gente só aprende a andar com dor, como quem se acostuma com um sapato apertado porque já não tem outro. Não quero um final. Não agora. Talvez nunca. Cansei dos finais que parecem resolver tudo, mas não dizem nada. Quero continuar. Mesmo que continue confuso, mesmo que às vezes pareça sem sentido. Porque tem algo bonito em simplesmente seguir. Mesmo sem saber o rumo, mesmo com as mãos vazias. E talvez... só talvez... seja isso que a gente esteja fazendo esse tempo todo: tentando dar o melhor, até pro travesseiro.

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