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Reflexões e Inspirações 

Pétalas Invisíveis

Andei por mares que nem sei o nome. Naveguei entre ondas feitas de promessas e tempestades vestidas de silêncio. Atravessei arquipélagos de rostos — alguns sorrindo, outros apenas passando. Vi gente sábia plantando frases como sementes, vi reis de pedra sentados em tronos de solidão, vi poetas que choravam tinta e desenhavam esperança no ar.

Mas nenhum deles me disse o que eu realmente queria saber: o que é o amor?

Procurei em canções, mas só encontrei versos partidos. Procurei em abraços, mas quase todos estavam com os braços ocupados demais. Procurei em mim, e só encontrei espelhos sujos, trincados por decepções que aprendi a chamar de aprendizado.

Foi quando eu parei de procurar que encontrei.

Um velho — cansado como quem viveu mil vidas, leve como quem perdoou todas elas. Ele não usava palavras como escudo, nem gestos como espetáculo. Ele apenas segurava uma flor. Uma flor que parecia saber mais do que muitos livros. Uma flor que sangrava silêncio e desabrochava em paz.

“Amor?”, ele repetiu, como quem mastiga lembranças.

E apontou para a flor.

“É o carinho que não faz barulho, o espinho que fere devagar. É a coragem de sangrar por algo que você nunca vai entender completamente.”

Fiquei em silêncio. Mas não era um silêncio vazio. Era um silêncio cheio de significados — como o céu antes da tempestade, como os olhos de quem sabe que vai chorar.

Entendi que o amor não é uma resposta. É uma pergunta sem ponto final. É o espaço entre duas mãos que se procuram, o tempo entre dois olhares que se reconhecem. É a entrega sem contrato, a queda sem medo de quebrar.

É um jardim que brota no peito de quem insiste em sentir, mesmo depois das podas.

E desde aquele dia, ando mais devagar.

Para ouvir os espinhos.

Para ver as pétalas invisíveis.

Para lembrar que, às vezes, o que sangra… floresce.

Nota do Autor:

Este texto é livremente inspirado na canção “O Velho e a Flor” de Vinicius de Moraes. Uma música que, com delicadeza brutal, nos lembra que o amor não é apenas perfume de flor — é também o espinho que não se vê.

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