Desaparecido

Tudo no lugar.

A cama feita.

A comida posta.

As portas trancadas.

Mas ninguém para deitar, comer, entrar.

A casa parece ainda viva — mas já não respira.

Cada objeto permanece onde foi deixado pela última vez.

Como se esperasse o retorno de alguém que não volta mais.

Já parou para pensar nisso?

Quando a gente viaja, tudo permanece.

Mas... e se não fosse uma viagem?

E se fosse um desaparecimento?

Quanto tempo demoraria para alguém notar?

Dias?

Semanas?

Meses?

Quem seria o primeiro a estranhar o silêncio?

Quem teria a coragem de abrir a porta, encarar o vazio, e dizer:“Ele não está mais aqui”?

E, quando finalmente alguém entrasse…seria para te procurar ou apenas para dividir o que sobrou?

Pegariam suas coisas.

Remexeriam suas gavetas.

Julgariam suas escolhas.

Jogariam fora papéis que você guardava com tanto cuidado.

Talvez rissem de algo que, para você, era um pedaço de memória.

Seu travesseiro seria de outro.

Seu perfume se apagaria do ar.

Sua xícara favorita viraria entulho.

Tudo aquilo que levou anos para conquistar, seria vendido por centavos.

Ou, pior, esquecido em caixas que ninguém vai abrir.

O mundo não para quando a gente some.

Ele simplesmente desvia o olhar.

E as marcas da nossa presença vão sendo apagadascomo pegadas na areialevadas pelo tempo, pelo vento, por ninguém.

Desaparecer dói.

Não pelo ato, mas pela constatação brutal de que —no fim das contas — tudo o que deixamos pode ser desfeito.

E, mesmo assim, seguimos vivendo com tanto medo de bagunçar o que amamos...quando o que dói mesmo é imaginar tudo isso intocado, esperando por alguém que nunca mais volta.