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Reflexões e Inspirações 

Castigo Invisível

É difícil explicar quando o frio não vem só do lado de fora.

Ele não sopra das janelas abertas, nem da ausência do sol nas manhãs de inverno.

Ele começa dentro — e é ali que gela tudo.

Andar em direção ao próprio fim pode parecer um exagero… até perceber que já está caminhando há muito tempo.

A passos lentos, às vezes rápidos, outras vezes sem saber sequer se os pés ainda tocam o chão.

É como seguir por um corredor que se fecha sozinho atrás de você, empurrando para frente, sempre para frente, para um lugar que ninguém quer realmente alcançar.

E o mais estranho de tudo…

É que eu nem sei quem está andando.

Não sei quem sou.

Não sei se fui feito assim, ou se fui me desfazendo ao longo do caminho.

Talvez tenha sido o tempo.

Ou talvez tenha sido eu mesmo, cavando com as próprias mãos o fundo do poço e chamando de destino.

Eu sei que machuco, sei que confundo, sei que falo demais e sinto de menos.

Mas não sei por quê.

Só que dói.

Dói não entender o que sou, mas ver os estragos que deixo atrás de mim.

Dói ver que, por mais que eu tente, sempre carrego um pouco de destruição nos bolsos.

Quebro sem querer aquilo que tentava consertar.

Afasto quem tentava me segurar.

E no fundo, só queria que alguém acreditasse em mim.

Mesmo que nem eu acredite.

Me pego mentindo sem saber o motivo.

Falando coisas que nem fazem sentido.

Fugindo de tudo, inclusive de mim.

E torcendo — com uma fé tosca e desesperada — que talvez, só talvez, alguém veja algo além do caos.

Mas quem vai ficar?

Quem aguenta um furacão de incertezas e promessas quebradas?

Dizem que não é pessoal, mas é.

Sempre é.

Não existe dor impessoal quando se está do outro lado do estrago.

A ferida pode ter sido causada sem intenção, mas ela sangra do mesmo jeito.

E quando a ficha cai… já não tem volta.

Todos os sentimentos estão no chão, partidos, misturados, irreconhecíveis.

Você olha para a bagunça que causou e percebe que não tem como juntar tudo de novo.

Algumas coisas, quando se quebram, não voltam a ser inteiras.

Outras, simplesmente se recusam a voltar.

É nessa hora que o silêncio vira castigo.

Que o frio não vem do vento, mas da ausência.

Da porta que se fechou.

Da voz que não respondeu.

Do olhar que não retorna.

E então você pergunta:“O que eu te fiz?”

Mas não é uma pergunta para quem foi embora.

É um grito interno, sufocado…

Uma cobrança que ninguém pode pagar por você.

Talvez o problema não seja o mundo.

Talvez o labirinto seja eu.

Um emaranhado de culpa, autopunição e sabotagem que me faz falhar até quando quero acertar.

E ainda assim, torço.

Torço para que alguém entre nesse labirinto e diga: “Eu não vou embora.”

Mesmo sabendo o risco.

Mas quem fica em um inverno que nunca termina?

Não sei o que me tornei.

Só sei que tem algo quebrado aqui dentro…

E que, se eu não encontrar uma saída, vou acabar transformando tudo ao redor em escuridão também.

O caos…

Por um tempo, ele foi o único lugar onde me senti vivo.

Mas agora, tudo que resta é frio.

E silêncio.

E a certeza de que, se eu não mudar…

Ninguém mais vai voltar para dentro.

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