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Reflexões e Inspirações 

Cansaço mental

Atualizado: 12 de jun.

Acordo. E nem sei por quê. Não porque quero, não porque sinto vontade, mas porque meu corpo levanta sozinho, como se fosse puxado por uma linha invisível, costurado à rotina. O despertador toca e os olhos abrem antes que eu possa escolher. E lá estou eu, novamente. Outro dia, mesmo dia. Digo "bom dia". Às vezes até sorrio. Falo com a minha família, finjo que ouvi o que disseram, escovo os dentes olhando pro espelho como se estivesse encarando um estranho. (Não é só cansaço. É algo que não sei nomear. É algo que mora ali, no fundo, entre uma respiração e outra.) Faço café. Porque dizem que ajuda. Ajuda a quê? A suportar? A empurrar o dia com a barriga? (A fingir melhor, talvez.) Tomo um gole, coloco uma roupa qualquer, saio. Mais uma vez. Chego no trabalho com o mesmo sorriso de sempre. Sincero o suficiente pra não levantar suspeita, automático o bastante pra não me cansar mais do que já estou. Converso. Cumprimento. Respondo. Ouço. Falo. (Mas nada realmente acontece dentro de mim. Tá tudo em silêncio.) E então passa. Tudo passa, como um filme que já vi tantas vezes que nem presto mais atenção. Volto pra casa, como, digo que o dia foi bom (foi?), conto piadas que nem acho graça. Rio junto. Mas por dentro, o vazio grita. À noite, quando o mundo silencia e ninguém mais exige que eu finja ser algo, eu desmorono. No banho, onde a água camufla os olhos molhados. No quarto, onde a solidão não precisa ser explicada. No escuro, onde não há plateia. (E eu não preciso mais atuar.) É aí que a verdade vem. E ela não vem como um tapa, nem como um grito. Vem como um cansaço. Um cansaço que pesa mais que qualquer peso no mundo. Um cansaço que não passa com sono, nem com férias, nem com conselhos bem-intencionados. E eu sigo. Não por escolha, mas por falta dela. Porque tem contas, tem pessoas, tem obrigações. E tem essa esperança boba de que talvez amanhã doa menos. Que talvez um dia faça sentido. Que talvez o que eu sinto encontre palavras, eco, resposta. Mas, por enquanto, eu apenas sigo. E finjo. E sorrio. (E ninguém percebe.)

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