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Reflexões e Inspirações 

2005

  • Foto do escritor: Felipe Manuel
    Felipe Manuel
  • 5 de mai.
  • 2 min de leitura

Tem dias que eu paro pra pensar no tempo. Não no tempo dos relógios ou dos calendários, mas naquele tempo que a gente viveu e não percebeu que estava construindo alguma coisa. E nesse meio de pensamento, eu volto pra um lugar estranho e aconchegante... um ponto de equilíbrio entre o ontem e o hoje. Como se fosse uma dobra no tempo onde a infância ainda cabia na rua, mas o mundo já piscava em telas brilhantes. Nasci ali, entre 2000 e 2005. Um espaço de transição, onde ainda dava tempo de aprender a brincar de taco e, ao mesmo tempo, abrir um bloco de notas no computador da escola. A gente não sabia que estava vivendo algo único. Não sabíamos que, enquanto pulávamos corda ou gastávamos a sola do tênis batendo figurinha no chão quente, o mundo já começava a acelerar numa velocidade que nossos joelhos ralados não acompanhariam. A gente viu a fita cassete, mas já escutava música no mp3. A gente rebobinava DVDs, mas começava a entender o streaming. Jogava bola descalço até o pé doer, e depois disso ia pra lan house criar um personagem com o nome mais estranho possível. Era um tempo em que tudo ainda podia ser descoberto sem tutorial, mas já existia o Google pra quando faltava alguém pra ensinar. É curioso pensar que fomos educados à base de chineladas e, mesmo assim, hoje somos os que mais falam de saúde mental. Talvez porque entendemos que uma coisa não exclui a outra. Que a dor não precisa ser perpetuada, mas também não precisa ser esquecida. E nisso tudo, tem uma beleza sutil: crescemos no intervalo. No entre. No espaço onde a infância ainda era analógica, mas a adolescência já vinha digitalizada. Tem quem diga que outras gerações foram as melhores. Que os anos 90 eram mais livres. Que os nascidos depois são mais conscientes. Mas... e se a nossa beleza estiver justamente no fato de sermos mistura? De termos vivido uma transição que ninguém mais vai viver da mesma forma? Não como uma superioridade, mas como uma marca invisível do tempo. Uma cicatriz que a gente carrega com orgulho, mesmo que ninguém mais veja. Eu não sei se fomos os melhores. Mas sei que fomos únicos. E isso, por si só, já me faz querer ficar mais um tempo aqui, lembrando das figurinhas, dos desenhos, das tardes com cheiro de poeira e dos fones que embolavam no bolso. E, quem sabe, tentando entender o que sobrou de tudo isso em mim.

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